Spotlight: Segredos Revelados (2015)
Ficha técnicaOlá gente, tudo bem? Minha primeira resenha para o blog e um dos filmes mais falados nas últimas semanas – Spotlight: Segredos Revelados - ganhador do Oscar de melhor filme, e que desbancou alguns dos ganhadores de outras premiações como O Regresso e A Grande Aposta (Globo de Ouro e Sindicato dos Produtores).
Diretor: Tom McCarthy
Escrito por: Tom McCarthy, Josh Singer
Elenco: Mark Ruffalo, Michael Keaton, Rachel McAdams, Liev Schreiber, Stanley Tucci, John Slattery
Sinopse: Baseado em uma história real, o filme conta a história de uma equipe investigativa do jornal Boston Globe que em 2001 revelou o escândalo de abuso de crianças por padres católicos e acobertados durante anos pela Igreja.
A imprensa é um tema imensamente abordado por Hollywood em filmes consagrados como Todos os Homens do Presidente (1976), Boa Noite e Boa Sorte (2005), Frost/Nixon (2008), A Montanha dos Sete Abutres (1952), Cidadão Kane (1941), O Quarto Poder (1997), O Informante (1999), entre outros, sempre enfatizando seu viés de formador da opinião pública, como órgão regulador do sistema democrático e principalmente em como o papel da imprensa pode mudar o rumo da sociedade.É a partir desta tônica da imprensa que se desenvolve Spotlight, em como o jornalismo investigativo teve um papel fundamental em revelar uma série de escândalos e impactar em mudanças em como a Igreja Católica se responsabiliza e pune abusos cometidos por padres. Em 2001, o Boston Globe, maior jornal do estado de Massachussets e entre os 25 mais importantes dos Estados Unidos, contratou um novo editor, Marty Baron, que mesmo encontrando resistência no jornal resolve colocar sua equipe investigativa – Spotlight – para apurar abusos infantis cometidos por um padre de Boston nos últimos 30 anos e que teriam sido acobertados pelo Arcerbispo de Boston – Cardeal Law. Ao aprofundar a investigação, a equipe se depara com uma rede de abusos de mais de 70 padres acobertada pela igreja e por advogados, onde os padres eram transferidos de congregação a congregação após a descoberta dos casos.
Para Spotlight, um dos maiores acertos é a sutileza com que uma história tão pesada e delicada é contada, não se atentando aos acontecimentos em si, mas sim como ela é investigada e descoberta por esse grupo de jornalistas, a ligação emocional de cada um deles com a história e as vítimas, o cuidado que com essa história seria contada e como ela chegaria à opinião pública. A direção de Tom McCarthy também acerta ao mostrar em enquadramento aberto uma Boston extremamente católica combinada com uma ótima trilha sonora que dita a narrativa da trama.
Para poder entender os desdobramentos e toda a investigação feita por Spotlight é importante compreender o contexto pelo qual se passava os Estados Unidos naquele período e principalmente as características da cidade de Boston. Boston, que fica no Estado de Massachussets, é a cidade de maior população católica dos Estados Unidos, de acordo com o Huffignton Post (2015) – 36% da população da cidade. Assim, é possível entender um pouco o peso das descobertas perante a sociedade e a dificuldade mostrada no filme que a equipe enfrenta durante a investigação. A denúncia original sobre abusos de 20 padres havia sido feita por um advogado ao Boston Globe oito anos antes, mas não foi levante adiante. Ironicamente, foi necessária a vinda do editor judeu Marty Baron disposto a enfrentar toda uma rede composta por Igreja Católica, advogados, juízes e simpatizantes. Além disso, em meados da investigação acontecem os atendados ao World Trade Center em 11 de setembro, direcionando todos os esforços do jornal e colocando mais uma vez em xeque se a história seria contada.
Outro aspecto que o filme retrata muito bem e que sempre foi um dos dilemas nas grandes coberturas jornalísticas é sobre a hora certa da publicação, neste caso especificamente publicar apenas a história de um padre ou investigar o caso completo? Correr o risco de um jornal concorrente ganhar a história exclusiva porque a decisão editorial foi aguardar e fazer a cobertura completa? Este é um dos grandes dilemas em Spotlight retratados pelo principal repórter Michael Rezendes, muito bem interpretado por Mark Ruffalo e por uma das vítimas, Phil Saviano. No caso de Spotlight, a decisão do editor Robby Robinson (Michael Keaton) de fazer a cobertura completa se mostrou muito acertada, uma vez que o Boston Globe publicou cerca de 600 reportagens sobre o assunto e 249 padres foram publicamente acusados de abuso infantil.
O elenco é outro ponto positivo do filme, liderado por Mark Ruffalo e Michael Keaton, como o repórter e editor da equipe de Spotlight, respectivamente. Também destaco a sóbria atuação de Rachel McAdams, mais acostumada com comédias românticas, mas que aqui tem uma atuação impecável. Liev Schrieber, no papel do novo editor do Boston Globe e Stanley Tucci, ótimo como o incansável advogado Mitchel Garabedian também complementam o ótimo elenco, premiado pelo Sindicato de Atores.
Agora saindo um pouco sobre a história revelada por Spotlight e falando sobre o jornalismo em si, o filme assim como antecessores do gênero desperta um grande saudosismo para os jornalistas de plantão – assim como eu - aos românticos da velha reportagem, da ética jornalística, de como a profissão pode fazer a diferença e mudar a sociedade, desvendar casos de corrupção e injustiças, e algumas práticas por vezes perdidas em meados do século 20, antes da digitalização das redações. Se em Todos os Homens do Presidente o público conseguiu se sentir na pele dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein e investigar o escândalo Watergate que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon, em Spotlight o filme nos coloca na pele da equipe ao tentar revelar as injustiças cometidas por membros da instituição mais tradicional da sociedade.
Mas e o jornalismo hoje? Até que ponto a lógica do capitalismo financeiro e os interesses dos conglomerados empresariais modificaram a imprensa e sua relação com a opinião pública? O jogo de interesses permeado na sociedade e que também vemos em Spotlight impede que cada vez mais o jornalismo possa trazer descobertas que impactem na sociedade? Qual o limite de interesses políticos, econômicos e sociais na independência editorial e na ética jornalística? Tais questões estão no centro da discussão do jornalismo e os desafios que a profissão tem enfrentado com sua digitalização e com novos meios, mais independentes e alternativos. Para a mídia impressa, já é mais que comprovado o impacto causado pelo surgimento de novas mídias. O jornalismo investigativo, como pôde ser visto em Spoltight não é gratuito, é um investimento caro, e que muitas vezes é o oposto do que os grandes conglomerados de mídia buscam. A descoberta feita por Spotlight atualmente é uma utopia (Hoje a equipe de Spotlight ainda existe no Boston Globe e foi ampliada para 6 jornalistas)? Dificilmente. Permeada por interesses ou não, por vezes de forma independente, o jornalismo investigativo ainda respira e se faz necessário mais que nunca para o fortalecimento da democracia, sendo no meio impresso, digital ou eletrônico.
Assim, Spotlight é um filme que com muita sobriedade mostra o corajoso trabalho de uma equipe jornalística que cumpre tudo o que se espera da profissão e consegue ter um impacto significativo na sociedade, além de deixar uma importante reflexão sobre o futuro da profissão.
Em tempo, para quem gosta do assunto recomendo Todos os Homens do Presidente (DVD e livro – Carl Bernstein e Bob Woodward), a série Newsroom (HBO), O Informante, Quase famosos, Nos Bastidores da Notícia e no fim do mês estreia Conspiração e Poder, filme estrelado por Robert Redford e Cate Blanchett que conta reportagem investigativa feita pela CBS em 2004 sobre o presidente George W. Bush que abalou a carreira de dois funcionários da emissora.
“Às vezes é fácil de esquecer que passamos a maior parte de nosso tempo tropeçando no escuro... Reportagens que terão impactos imediatos e significativos em nossos leitores. Para este tipo de história, é por isso que fazemos isso”. Marty BaronAté a próxima!
Marina Landert, ou Mari, como preferir. Jornalista viciada em uma boa história e que não vive sem um bom livro na bolsa. Apaixonada por filmes, séries, música e por viajar. - See more at: http://intheskyblog.blogspot.com.br/p/sobre.html#sthash.OY3ZbdQT.dpuf |
Puxam que resenha! Parabéns, Mari, ficou nível de profissional mesmo.
ResponderExcluirAgora, focando no texto. O filme parece muito bom, o foco na equipe de jornalista deu um tom original e inovador, afinal filmes sobre jornalistas focam mais no dia a dia da equipe e deixam as notícias em segundo plano; já filmes com denúncias polêmicas, focam no fato denunciado e os jornalistas são elementos menores, tratados quase como objetos de cenário. Não assisti Spotlight, mas ao que parece ele junta os dois argumentos: mostra a situação dos repórteres e dos padres acusados de pedofilia - um achado.
Olá Helana,
ResponderExcluirQuase não vejo filme, moro longe de um cinemas. Fiquei tão curiosa sobre esse filme, que vou tentar assistir e conhecer ainda mais dessa história.
Filmes sobre jornalistas sempre é empolgante, saber como vão conduzir a história e se publica ou não.
Parabéns pela resenha, gosto de livros ou filmes eletrizantes.
beijos
Olá resenha UAL! Eu tinha ouvido falar do filme , porém não sabia de verdade do que falava, caramba que filme! Hoje em dia é muito difícil um jornalismo de qualidade pelo conteúdo, prostituiram nossas mídias com o único objetivo de ganhar audiência e para isso vale tudo, até mesmo se omitir e colocar apenas futilidades, também sou saudosa nesse sentido, queria uma mídia mais comprometida em trazer informação e a verdade para a sociedade, quem sabe um filme assim faça com que o povo repense o lixo que nos vem sendo empurrado goela abaixo e nos faça cobrar mais criticamente por conteúdo de qualidade.
ResponderExcluirParabéns pelo post!!
Beijos
Olá!
ResponderExcluirEstudo jornalismo também, então estou bem nesse dilema. Eu assisti Todos os Homens do Presidente (e adorei) e desde então eu penso em que rumo o jornalismo vai tomar, como sobreviverá aos interesses dos grandes conglomerados, sem falar na qualidade. Será que vale a pena publicar qualquer coisa em busca de cliques e vendas? Parabéns pelo texto.
Olá, eu não conhecia o filme mas gostei da premissa dele. Tem muitos pontos positivos e que me agradaram bastante.
ResponderExcluirEu fico abismada com resenhas tão bem embasadas, parabéns! A minha preguiça as vezes não me deixa ser tão profunda.
ResponderExcluirNão sabia que o filme focava na religião mais forte na cidade, na verdade, não sabia nadinha do filme! Com certeza vou conferir.
Beijão, Mari
Olá... Marina... tenho ouvido falar no filme por causa do Oscar, mas confesso que nunca tinha me aprofundado muito no enredo... lendo sua resenha percebi o quanto eu vou adorar assistir esse filme... tem atores excelente e parece que o filme é bem produzido e desenvolvido... de frente a uma investigação de pedofilia entre padres não é de se esperar nada melhor e o filme ganhar o Oscar... então você conseguiu despertar o meu interesse... xero!!
ResponderExcluiruau, que filme! Eu já havia ouvido falar, mas assumo que não me chamou tanto a atenção. Entretanto, depois dessa sua resenha preciso assumir que a curiosidade começou a bater na minha porta.. e eu... a-bri. Senhoras e senhores, ponham a mão no chão...
ResponderExcluirDesculpa, me empolguei com a música da infância.rs.
Oi, só fiquei sabendo desse filme pois foi indicado ao Oscar (e venceu!), antes disso eu não sabia muito bem sobre o que se tratava.
ResponderExcluirTenho visto diversos comentários a respeito e cada vez tenho mais vontade de assistir.
Adorei sua crítica a respeito desse filme...seja bem vinda, vou acompanhar suas postagens sempre que puder :)
Super beijo
Oi, Marina! Parabéns pela primeira resenha, muito bem escrita por sinal.
ResponderExcluirEu quero muuuito ver esse filme. Primeiro por conta dos atores. Adoro o Ruffalo, acho a Rachel ótima, assim como o demais atores. Segundo porque esse assunto das igrejas e dos padres abusivos eu acho suuuuper interessante - triste, mas interessante -, e ser tratada e exposta assim na mídia, então, impactando a todos, putz, deve ser demais e eu preciso assistir!
Um beijo
www.viciadosemleitura.blog.br
Nossa, estava curiosa pra assistir esse filme, vi a premiação do Oscar e quando soube que era baseado em fatos reais fiquei morrendo de vontade de ver.
ResponderExcluirSua resenha ficou perfeita, com certeza irei assistir em breve.
Beijos
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Olá! Esse filme me chamou bastante atenção, gostei bastante da trama dele, já que foi baseado em fatos reais...Imagino esse tumulto na época, fazer denúncias desse calibre não é pra qualquer um. Parabéns pela resenha crítica, foi ótima! Beijos!
ResponderExcluirOie!
ResponderExcluirConfesso que até então eu não estava interessada no filme, mas depois que li mais sobre ele, fiquei curiosa. O tema é bem interessante, e o elenco contratado é de qualidade. Preciso assistir para descobrir o que vou achar sobre essa história.
Bjks!
Histórias sem Fim
Hello!
ResponderExcluirAntes mesmo de ganhar o Oscar de melhor filme, eu ja queria assistir Spotlight: Segredos Revelados.
Achei a trama mto tensa e me da ate raiva de saber que é baseado em algo que acontece.
O elenco está um arraso mesmo, e com certeza o filme mereceu o prêmio.
Gostei mto de ler a sua critica sobre o fime, com certeza me deixou mais curiosa.
Beijos!
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Oie
ResponderExcluirouvi falar bastante e estou mega curiosa pelo enredo, parece ser um filme muito legal e diferente, gostei da resenha
Beijo
http://realityofbooks.blogspot.com.br/
Saudações literárias! Pelo seu post, fiquei com muita vontade em assistir. Só que tem um pequeno problema, aonde moro não tem cinema, vou ter que apelar e baixar pela net heheheh.
ResponderExcluirOi,
ResponderExcluirConfesso que só ouvi falar do filme depois que ele ganhou o Oscar! Rsrsrs Lendo a sua resenha fiquei curiosa para assistir o filme, quero mt entender o que essa equipe "sofre" para fazer matérias de qualidade para sociedade.
Bjs!
Fadas Literárias
Olá.
ResponderExcluirTudo bom?
Nossa suas impressões do filme foram brilhantes, mas infelizmente não me atraiu, não sou muito fã desse tipo de filme, então vou deixar passar a dica.
Beijos
Oie
ResponderExcluirAdorei sua resenha!! Muito bem feita.
Só de ter Mark Ruffalo no elenco já me conquista!
Gosto de filmes com tramas intensas e ainda mais com coisas que realmente acontecem, vou procurar assistir o mais breve possível.
bjs
Fernanda
http://pacoteliterario.blogspot.com.br/
Olá, ainda não assisti esse filme, mas tenho muito interesse em vê-lo por conta do Oscar e principalmente da história.
ResponderExcluirMuito boa a resenha, parabéns!
Gostei muito da ideia do filme, esse jornalismo investigativo, a forma com que o diretor focou na história.
Beeijos, Erica Regina
Blog Parado na Estante / Fanpage Parado na Estante