Por : Marina Landert
Blackfish (2013)
Ficha técnicaOlá gente, tudo bem?
Diretor: Gabriela Cowperthwaite
Escrito por: Gabriela Cowperthwaite, Eli Despres, Tim Zimmermann
Sinopse: O documentário conta a história das orcas em cativeiro, a partir da morte da treinadora do SeaWorld Dawn Brancheau.
Documentário é um formato de filme que nem sempre agrada o grande público, uma vez que ao tratar a realidade, ou versões da mesma, o ritmo por vezes se torna um pouco lento e a dificuldade de prender a atenção do público é maior que para os filmes tradicionais. No entanto, tal aspecto tem se modificado há alguns anos com a popularização do gênero com filmes muito relevantes como Tiros em Columbine (2002), Uma Verdade Inconveniente (2006), Marcha dos Pinguins (2005), Fahreinheit 9/11 (2004), Citzen Four (2014), entre outros.
É a partir desse cenário que trago no Cinema & Café de hoje um dos documentários mais relevantes dos últimos anos, Blackfish (2013). Dirigido por Gabriela Cowperthwaite, ele conta a história das orcas em cativeiro, especialmente Tilikum, que foi responsável pela morte de três pessoas, inclusive da treinadora do SeaWorld Dawn Brancheau em 2010. O filme teve grande repercussão na época de seu lançamento e até hoje é muito comentado, tendo grande impacto inclusive para o SeaWorld, principal alvo do filme.
Mas quem pensa que o documentário explora excessivamente o tom dramático da morte da treinadora está enganado. A diretora utiliza o argumento de sua morte para mostrar a trajetória da baleia Tilikum, desde a sua captura até os primeiros incidentes em parques aquáticos anteriores à sua chegada ao SeaWorld em 1992 e um pouco do estudo da origem do comportamento psicótico e agressivo das orcas em cativeiro. Durante todo o filme vemos métodos que a indústria emprega para o bem do entretenimento como capturar filhotes de orcas, separar as baleias mães de seus filhotes, até a reprodução em cativeiro, utilizando Tilikum, um animal com comportamento psicótico e agressivo como o principal reprodutor.
A diretora acerta desde o início ao começar pelas impressões de seus principais entrevistados – ex-treinadores do SeaWorld – sobre o que para eles significava trabalhar no parque e acima de tudo a experiência em treinar orcas e os demais animais. Assim, Blackfish acompanha o imaginário do grande público, fazendo um paralelo da mágica dos shows de parques aquáticos, da beleza das orcas e sua interação com humanos, principalmente com o slogan e nome do principal show do parque “Believe” (Acredite em português).
Após tal momento inicial, o documentário trabalha descontruindo esse conceito ao recontar a morte de Dawn Brancheau, e voltar 39 anos para mostrar a caça a essas orcas em Washington e no Atlântico Norte, próximo à Islândia, este último onde Tilikum foi capturado aos dois anos de idade. Essa desconstrução é exacerbada pelos entrevistados, em sua maioria ex-treinadores do SeaWorld e pesquisadores de animais marinhos, que corroboram com a hipótese de que o cativeiro, somado à condições adversas (espaços pequenos para orcas que pesam mais de 2.000 kg, privação de comida e violência entre os próprios animais), estresse causado pela obrigação de treinamentos e performance e a separação das mães de seus filhotes pode gerar comportamentos violentos e psicóticos por parte dos animais.
A narrativa escolhida por Gabriela Cowperthwaite é um dos principais trunfos, pois prende a atenção do começo ao fim ao habilmente construir e amarrar uma cadeia de fatos para corroborar com suas críticas. Outro acerto é o riquíssimo acervo de imagens, que vão desde apresentações em parques dos Estados Unidos, Canadá e Espanha até a captura das orcas. Por vezes a diretora explora o recurso emocional ao recontar alguns momentos delicados no treinamento das orcas e nas mortes ocorridas em parques aquáticos. No entanto, é a partir dessa utilização do emocional que Blackfish consegue impactar e levantar um debate relevante acerca do assunto. Importante ainda ressaltar que o documentário explora um ponto de vista, então não há muita contraposição de ideais e interpretações sobre o assunto (com exceção por vezes de depoimentos de Mark Simmons, ex-treinador do SeaWorld e principal defensor) – muito disso se dá à recusa do parque de responder às críticas e alegações feitas durante o documentário.
Blackfish teve sua estreia no Sundance Film Festival de 2013, maior festival de filmes independentes dos Estados Unidos. Após o festival, foi adquirido pela CNN filmes e pela Magnolia Pictures para distribuição. Em sua transmissão inicial na CNN teve 21 milhões de telespectadores. Após o lançamento, o que se viu foi de um lado uma comoção nacional pedindo libertação das orcas e boicote aos parques e do outro o SeaWorld se manifestando veementemente contra o documentário, o acusando de cumprir uma agenda de interesses de ativistas dos direitos animais. O fato é que o filme cumpriu com o seu objetivo de conseguir causar um impacto: imediatamente após a morte de Dawn Brancheau os treinadores foram impedidos de entrar na água com as orcas, o SeaWorld acumulou perdas financeiras e queda no número de visitantes após a exibição de Blackfish e este ano o parque anunciou que não fará mais a reprodução de orcas.
Polêmicas e críticas à parte, Blackfish é um emocionante documentário, que com delicadeza conta uma história tão importante e relevante e consegue quebrar o imaginário do público acerca do assunto ao desvendar uma indústria que move milhões de dólares utilizando animais em cativeiro e colocando em risco a segurança de pessoas.
“Quando você olha nos olhos delas, sabe que alguém está lá. Alguém está olhando de volta. Você cria uma relação muito pessoal com o animal”, John Jett, ex-treinador do SeaWorld.
Trailer: Para quem gosta do assunto, recomendo o documentário The Cove (2009), que analisa a caça aos golfinhos no Japão e ganhou o Oscar de melhor documentário em 2010, e dois livros ainda sem tradução no Brasil, Death at Seaworld (David Kirby, 2013) e Beneath the Surface (John Hargrove, 2015).
Até a próxima!
Sugestões para a próxima resenha, não deixe de votar:
Marina Landert, ou Mari, como preferir. Jornalista viciada em uma boa história e que não vive sem um bom livro na bolsa. Apaixonada por filmes, séries, música e por viajar. - See more at: http://intheskyblog.blogspot.com.br/p/sobre. |
Adorei essa postagem!! Eu assisti esse documentário no ano passado e fiquei - como muitos - chocados com toda a crueldade que esse animais sofrem apenas para poder entreter os seres humanos. Todo mundo deveria assistir esses documentários que abrem nossos olhos para tudo o que realmente acontece nos bastidores daquilo que estamos acostumados a achar natural.
ResponderExcluirGostaria de ver mais resenhas de documentários desse tipo, que tal fazer sobre o nacional A Carne é Fraca? Ou seria polêmico demais?
Beijos
http://www.livromaniaca.com/
Hello!
ResponderExcluirConfesso que não sabia sobre o documentário, embora tenha sabido do "acidente" que culminou com a morte das três pessoas. Acho que documentários assim que mostram a verdade por trás das "beleza" que vemos por aí, em coisas que achamos comuns.
Um documentário que estou louca para ver (e não tem nada a ver com o tema, haha) é O sal da terra, do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. No doc, ele visita comunidades remotas em todo o planeta e mostra um pontinha do que é viver ali, em tribos que conservam culturas quase que pré-históricas. Fica como dica ;)
Bj
Olá Marina!
ResponderExcluirNão tenho o hábito de assistir documentários e nem sei se já vi algum na vida, mas fiquei extremamente interessada nesse por conta do assunto que ele traz, que me comove muito. Adorei a forma como você falou do documentário, me deixou ainda mais instigada.
Bjs!
Olá,
ResponderExcluirFiquei emocionada com a delicadeza de suas palavras. Bem pontuadas e elucidando cada ponto do filme e produção.
O SeaWorld realmente teve perdas enormes depois desse documentário e achei isso excelente, porque o que eles fazem com as orcas é crueldade. Eles devem ficar em seu habitat natural e não sendo "Objetos" de diversão humana e sofrendo nas mãos de treinadores e afins.
Os animas devem ficar na natureza e não serem domados pelos humanos para diversão dos mesmos.
Beijos,
poesiaqueencantavida.blogspot.com.br
Eu adoro assistir a documentários. Os meus preferidos são sobre animais ou sobre temas relativos ao universo, planetas essas coisas. Também gosto muito quando aborda algo relacionado à arqueologia ou paleontologia. O que me chateia é que ultimamente tem sido muito difícil encontrar bons documentários. Blackfish eu ainda não tive a oportunidade de assistir, mas depois de ler o seu post, fiquei bastante interessada, é bem o gênero de que gosto. Anotei a dica!
ResponderExcluirTatiana
Olá Marina, tudo bem?
ResponderExcluirCom certeza eu passo longe de documentários que envolvam animais, porque eu sempre acabo chorando com a maldade que o ser humano faz com eles. O lado positivo é que agora os parques que utilizam as orcas não farão mais aquelas demonstrações exaustivas.
E um dia isso acontecerá nos zoológicos também <3
Beijos
Olá!
ResponderExcluirResenha muito rica, detalhada e cativante; convida muito a assistir esse documentário que, de outra forma, teria passado batido. Fico até curiosa para saber como é a "delicadeza" com que a diretora retrata uma realidade tão cruel com os animais.
Muito obrigada pela indicação!
Abraços,
Ana Ruppenthal
Oii, tudo bem?
ResponderExcluirRealmente eu não conhecia esse documentário e me animou em dar certa oportunidade, principalmente em relação a baleias que é um animal que realmente admiro muito e gostaria que parassem com essa crueldade.
Beijão
Olá, tudo bom?
ResponderExcluirSempre fujo de documentários com animais, porque morro de chorar! Acho que o único filme que assisti com baleias e me traumatizei por uma vida foi "Free Willy" e desde então não me arrisco. Mas gostei da sua crítica e já deixei o meu voto registrado para o próximo filme ♥
Beijos, Rob
www.estantedarob.com.br
Olá, tudo bom?
ResponderExcluirNão conhecia o documentário, mas, não costumo ver nem filmes nem documentários com animais. Fiquei curiosa com a forma como a diretora trata essa realidade tão brutal de uma forma mais amena, até "delicada". Parabéns pelo post, ficou muito bom!
Beijos!
@PollyanaCampos
Entre Livros e Personagens
oi!
ResponderExcluirEu não assisti o documentário, pois sei que vou acabar me decepcionando com o modo que tratam as Orcas. Eu já assisti ao show do Sea World e é realmente mágico! Uma pena que elas sejam tratadas tão mal :(
Pelo menos o parque já se manifestou dizendo que não pegará mais baleias para confinar por lá!
Beijos,
Déia
Own Mine
Olá, adorei a postagem, gosto bastante de documentários e estou querendo muito conferir esse.
ResponderExcluirAdorei sua crítica e já vou votar na enquete!
Abraços
Literaleitura
Ótimo post! Eu adorei esse documentário, apesar de achar que ele é meio pretensioso em alguns momentos. Sou suspeita pra falar também, pois adoro documentários e animais, haha
ResponderExcluirBjs Cass | www.livroseoutrascoisas.com.br
Olá!
ResponderExcluirAdoro documentários, porém, esse ainda não conhecia. Nunca gostei desse tipo de show e, com certeza, a mensagem que ele transmite é bem forte. Vou procurar, porque faz um bom tempo que não vejo documentários. E votei no filme do Bradley Cooper, espero que ganhe!
Oie
ResponderExcluiracho que não conhecia o filme, mas parece ser mega interessante e vou ver se procuro saber mais para assistir, muito legal sua resenha
Beijos
http://realityofbooks.blogspot.com.br/
Oie.
ResponderExcluirPuxa esse documentário deve ser de chorar neh? Toda vez que paramos para analisar o que a raça humana faz com outras especies de vida do planeta é de cortar o coração. Eu sempre reflito sobre o monstro que somos, sempre destruindo, aprisionado e acabando com vidas por ganância!
Vou procurar assistir esse documentário!