Resenha: Momo e o senhor do tempo, Michael Ende

Por Elaine Moreira

Um livro lido em duas partes. Um intervalo de 3 anos até o término e o desespero nesse período por não saber o que aconteceria. Um fato inédito na minha vida e que acho que só contribuiu para que eu amasse ainda mais cada palavra impressa naquelas páginas, Momo e o Senhor do tempo me marcou de várias formas. É aquele tipo de livro com personalidade e que mesmo assim não é tãaao famoso, de modo que é uma cartada na manga na hora de uma conversa inteligente com troca de boas referências literárias.
A trama é atemporal e extremamente poética, delicada. Uma trama de palavras que formam um lindo texto/tecido.

Momo e o Senhor do Tempo

Ou a extraordinária história dos ladrões de tempo e da criança que trouxe de volta às pessoas o tempo roubado.

Michael Ende
O tempo é um enigma que intriga crianças e adultos que ainda não desaprenderam de se maravilhar com aquilo que parece evidente. A história de Momo se passa num reino de fantasia situado no nada e em lugar nenhum, ou numa região sem tempo. Não é uma história de príncipes, princesas e fadas. Seu contexto se inspira totalmente na vida atual.

Momo é uma garota órfã que surge em uma pequena cidade, tão comum que poderia ser qualquer lugar do mundo, em qualquer período de tempo.

Momo é especial, tem um dom. O de ouvir as pessoas.
Sim. Pare para pensar. Você sabe ouvir? Tem um amigo com esse dom?

O de reconhecer o momento em que deve se calar e prestar atenção ao outro? Geralmente no dia a dia estamos tão afoitos por repassar informações que mal percebemos que nem paramos para ouvir e nem somos ouvidos. Cada vez é mais comum sair com os amigos e não largar o celular. Estamos praticamente programados para fazer gestos de cabeça e murmurar alguns "Uhumms" e "sério" automaticamente enquanto conferimos as notificações das Redes Sociais.




Mas voltemos a Momo. Ela não era assim. Ela sentava-se e escutava. Ouvia tudo, tim tim por tim tim sem interromper, sem pressa. E ao falar, com tempo, calmamente a pessoa encontrava a solução para os seus problemas. Momo era mesmo especial. Tanto que se tornou um problema para os vilões dos livros os Homens Cinzentos.
Eles por sua vez, são serem que vivem do nosso tempo. Para isso nos iludem e fazem com que precisemos fazer as coisas cada vez mais rápido, cada vez em maior quantidade para economizar tempo. Este tempo segundo eles, nos seria devolvido na velhice. Uma poupança para usarmos como quiséssemos.
O problema é que assim que o acordo era fechado, a pessoa se esquece da visita do Homem Cinzento, mas a certeza de que precisa otimizar suas tarefas e economizar tempo permanece. É assim que somos roubados. Economizamos tempo, para que eles aproveitem e mal nos damos conta disso, só sabemos, que nunca somos rápidos o suficiente.
Mais um paralelo com a nossa realidade.
Mas enfim. Justamente por ouvir, Momo faz com que as pessoas "percam" tempo, o que irrita os Homens Cinzentos a ponto de quererem eliminá-la.

Uma história repleta de outras pequenas histórias tão encantadoras que se tornam inesquecíveis e meio que independem do livro para viverem em nossa memória, mas em seu conjunto o tornam um bem preciosíssimo.
Alguns personagens são caricatos na medida certa, para que possamos reconhecê-los a cada esquina, mas sem torná-los banais.
A primeira vez que peguei este livro, foi aos 17 anos, na Biblioteca da minha escola. Uma leitura de férias depois de ter concluído o Ensino Médio. Foi a minha última leitura na cidade de Sagrada Família - RS, onde morava com meus pais. Veio a aceitação no Curso de Jornalismo e a mudança para Rio do Sul - SC e o livro precisou ser devolvido, a contra gosto é claro.
Anos depois eis que me lembro dele. Peço para verificar a disponibilidade para encomenda e sim! Ele ainda estava disponível. :D

Quando chegou, não me importei de recomeçar a leitura, para então me apaixonar mais uma vez e agora sim descobrir mais sobre os perigos e aventuras enfrentados pela Momo para se livrar dos Homens Cinzentos.
Assim como Hazel, em a Culpa é das Estrelas, tinha receio de recomendar a leitura de "Uma aflição Imperial" fica esse medo de que a beleza do livro tenha se mostrado apenas para mim.
Mas fica a dica de um livro único e incrível, uma história diferente, tão antiga e ao mesmo tempo tão atual.

P.s.: Sobre o meu amor pelo livro, ao fazer um book temático, não tive dúvidas e o escolhi para ser o meu parceiro de fotos ;)
Créditos das Fotos: Julio Cesar Souza

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Elaine Moreira

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