Outros desastres

01 fevereiro 2010



Foi numa dessas manhãs de verão, quentes, que percebi o quanto já estava dentro daquilo que...Enfim não deveria.
E foi quando que lentamente coloquei os pés no chão e senti algo em mim, uma certeza súbita que não iria conseguir sair disso.
Peguei a foto dele, arrumei delicadamente no mural num lugar bem visto, cruzei os braços e pensei até que ponto isso era bom ou ruim – Mais de qualquer forma, eu não conseguia definir tais sentimentos. Passei a ponta dos dedos entre a foto contornando todo o rosto e num sorriso mordo percebi que seguir em frente é tão importante como ter boas lembranças e que nada é concreto.
Há não ser as músicas, os discos, a escova de dente azul que me lembra ele. As miudezas, os pensamentos e alguns sutilizas espalhadas pela memória.
Lembro que naquela manhã de sol quente passei o dorso de minha mão na cama e percebi o quão ele me faz falta, mesmo não o tocando.
Abro a porta e vou a cozinha procurar café – porque não tem nada mais construtivel
e poético do que tomar um café olhando o sol.
Sentei-me na sala, meus olhos fixos naquele teto verde água, o barulho que vinha da rua, carros, passários, pessoas falando. Conduzi a minha mão esquerda com a caneca ate a boca e a minha mão direita toca o lado do sofá vazio, sem vida.
”Tudo isso me perturba, me assusta, me faz tentar seguir e fazer de conta que não, não, não....
Todo a minha evolução certamente me conduzia a não-precisar-de-ninguém. Aceitando a minha ausência e a minha doce solidão das manhãs. Como se fosse um álbum de retratos, parado no tempo. Cheio de fotos amareladas, antigas, onde se folheava em noites claras e dias longos de ônibus onde eu sempre me via sozinha comigo mesma. Pensando que logo, talvez em meses anos eu posso estar fazendo isso de dão dada com alguém e quase adormecendo em seu colo.”

Durante muito tempo fiz coisas humanos e bem comuns como chorar e sentir saudades de coisas que certamente, digo certamente foram e não voltam mais. Então fui percebendo novamente que os sentimentos são mais comuns e mais intensos quando a gente deixa ser, deixa levar.
Deixei a canela na sala e segui rapidamente ao meu quarto, tirei a fotografia do mural e a levei em meus lábios a beijando-a sussurrando – E porque não? Mais uma vez?

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